terça-feira, 27 de julho de 2010

Later that year

Estava tudo muito calmo naquela manhã ensolarada de domingo, quando ele entrou. A rua estava vazia e ainda assim quente. Sabem como é, céu de Brasília.. Mas bastava que um pé seu fosse de encontro ao chão para o clima mudar. O sol que antes brilhava, ficara escondido atrás das nuvens. E meus olhos que antes sorriam, agora choravam. Não de saudades, uma vez que as lembrancças ainda restantes foram diluídas por todas as gotas de meu sangue minimizando seu efeito - eu já mal podia sentir o calor das suas mãos e muito menos o toque de seu corpo no meu - mas de tristeza pela parte de mim que ele levara embora. Levara meu coração e meu amor, minha capacidade de amar e ser amada. Levara com ele nossa história de não mais que duas estações (verão e outono, se a memória não me falha), nos quais no começo o amor ardia como o sol do meio-dia e era dia para sempre, mas com a mudança pro outono, minhas lágrimas caíam secas e mortas de cansaço como as folhas ao chão. A agonia do reencontro me perturbara desde então. Fôra-se a primavera de Ipês amarelos, o inverno de pouca umidade, as águas de março fechando o verão, para o outono chegar e trazer o inevitável à tona para mim. É triste. É triste ter tanta gente e sentir-me tão só. É triste que tão sozinha nessa rua o que se destaca é o vazio dos seus olhos ao ver os meus. É tão desconcertante que meu coração perde a melodia dos batimentos ao esconder do sol. Meu coração congela e pára, porque o frio condensa os sentimentos e com eles a água que desce dos meus olhos, tão descontentes e desapaixonados, tão mudos e tão calados. Cumprimento-o com o olhar. Mal posso sorrir, meus lábios racham esperando que o calor do seu abraço venha me aquecer. Mas no fundo eles sabem que não virá, pois os mesmos braços que me acolheram, não meus são mais; e o coração que por mim batia, para mim não sorri mais. Já não sei mais o que sei, o que fui, o que sou.
"Sorria" - eu penso como quem esperasse ser escutada.
E então ele o faz, consertando a sintonia do pensamento.

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